Enfrentar os desafios com coragem em cada fase da vida é um ato de generosidade.
O jeito de ver a vida é o mesmo jeito que nos mostramos para a vida. A velhice é um fato inerente à condição humana, no entanto a vida é cheia de superação e todos nós sabemos disso, não é mesmo? E os tempos são de inventar, renovar e reinventar, mas também de se colocar no caminho da arte do viver mais e melhor. Acredito no conceito da vida de poder, em qualquer tempo, apreender e partilhar.
Mas para isso precisamos nos movimentar porque as doenças físicas oportunistas sejam pela razão que for ela sempre nos encontra nas diversas fases da vida. O segredo está em como reagimos quando isto acontece.
Conheço pessoas de todas as idades que se movimentam o dia inteiro.
Outras, infelizmente o novo dia é um poço de lamentações, no entanto, para muitas sair da cama é um ato de alegria, criam, constroem, modificam. Vivencio este movimento no meu dia a dia, vejo pessoas com mais de setenta anos que preenche as horas com alegria e, se dedicam ao voluntariado. Estas acreditam que viver vale apena.
Isto me faz lembrar com saudade uma pessoa que fez a diferença na minha vida e acredito que de muitas outras pessoas. Minha amiga partiu perto dos noventa anos deixando o legado do viver mais e melhor tem seus segredos. Ela sugeria: filhinha tenha paciência, quando não puder controlar a língua coloque um gole de água na boca e não engula até passar a vontade de revidar. Tinha o jeito de dizer, fazendo, sempre sorrindo, sempre disposta. No hospital, entregou-me páginas de um livro. O que é isto eu perguntei? A querida amiga, sorriu e segredou no meu ouvido, para você ler. Fui para casa, e as guardei não li. O tempo passou e somente há alguns dias remexendo nas minhas coisas encontrei as páginas que ela me presenteou. Para minha surpresa diante de mim estava um desenho de um homem tentando segurar o tic tac do relógio na parede, como se estivesse segurando o tempo. Logo abaixo a frase ”O GRANDE TESOURO”.
Minha amiga em todas as oportunidades dizia: a pessoa não ter tempo, não justifica; outra a idade está apenas na cabeça.
Foi deste jeito simples que a querida amiga me ensinou muitas coisas, nos 16 anos de convivência no trabalho de voluntariado. Foi ela que me estimulou a escrever e palestrar. Tanto que a homenageie no livro razões para amar em 2007.
Como já comentei, envelhecer faz parte da condição humana, no entanto temos dificuldades para encarar nossas ruguinhas. Nosso corpo conta histórias, das quais servem de exemplo para os mais jovens. E isso é motivo de orgulho. Ser feliz é viver com naturalidade, disposição e bom humor, fazendo coisas que nos mantém ativos. Isto me faz lembrar outra amiga que aos 87 anos administra seus afazeres com disposição.
Somos responsáveis por nossas mazelas. Outro dia me permiti ser ferida por palavras agressivas. O desanimo tomou conta de mim, mas não é disso que vou falar. O que vou contar a vocês é sobre o telefonema de uma senhora de 80 anos. Esta senhora sempre alegre e bem disposta, com hábitos de leitura, disse-me que tinha terminado de ler o livro, “O vai e vem da vida”. Minha generosa amiga teceu elogios sobre a leitura. Mal sabia ela que suas palavras encheram-me de vida. Mas a grande surpresa desta história foi ela dizer que aprendeu com a leitura, e ia fazer o possível para se modificar. Senti-me forte, nem preciso dizer que mudei imediatamente o foco dos meus pensamentos.
Quando criança eu argumentava com meu pai.
Lembro muito bem destes bons momentos, ele puxava um banquinho e me convidava a sentar, e como um homem sábio que era, explicava: Filha não reclame dos modestos recursos que temos, com a crescente população teremos o avanço da tecnologia e suas facilidades, contudo não se engane, quando isto acontecer os desafios serão maiores e na maioria das vezes, carregados de incertezas. Não estou dizendo que será melhor ou pior, o que estou dizendo é que cada época conta sua história. Naquele tempo ele falava e eu escutava, mas não entendia. Na minha cabeça tudo parecia longe da realidade. Hoje eu entendo o que meu pai explicava. No colégio e mesmo depois na faculdade ainda não tinha o Google para auxiliar. No entanto, eu não precisava de remédios para dormir e não sofria dos medos da época contemporânea.
Agora repito as palavras de meu pai, não é nem bom nem ruim, cada época conta sua história.
Hoje ao reviver estas histórias, costumo dizer, já vivi muitas vidas, dentro da mesma vida. Contudo, o fato de passar por mudanças significativas no tempo, tem seu lado bom.
Acredito agora que somos capazes de transformar coisas e, o mais importante nos transformar, sem deixar o ser/estar camuflado no tempo das máquinas.
Não podemos andar na contramão do tempo, tampouco estar plugado vinte e quatro horas na ilusão dos muitos amigos, o que precisamos é buscar o equilíbrio para viver mais e melhor.
Viver mais e melhor tem seus segredos.
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